terça-feira, 6 de abril de 2010

Desafios do projeto ético-político profissional

Em rica mesa redonda, Carmelita Yazbek, Lúcia Barroco, Sara Granemann e Elizabete Mota apontaram que a sociedade atual e o Capital se estruturam de forma diferente, mas a desigualdade e miséria ainda são predominantes no país, que enfrenta, ainda, o retorno do conservadorismo com muita intensidade, tanto pela perspectiva neoliberal quanto pela reinvenção do desenvolvimentismo e da ideologia pragmática e tecnicista.
Carmelita, docente da PUC-SP, fez um panorama do momento de flexibilização e liberalização da economia, que se apresenta sobretudo em novas formas de organização das forças de trabalho. É neste marco que as relações entre classes, interesses e representações são diluídas e os trabalhadores experimentam a radicalização de sua exploração, enquanto o capital portador de juros ganha maior importância na economia mundial.
Segundo ela, é preciso acompa- nhar os impactos da crise econômica recente, após estouro da bolha imobiliária, no mundo. “Abre-se uma disputa pelo significado da crise e o que tirar dela”.
A cultura do medo
A nova forma de sociabilidade, marcada pela ideologia burguesa, está assentada na mercantilização das relações humanas e na negação do outro. É neste contexto, explica Lúcia Barroco, que o neoconservadorismo imprime sua marca com a criminalização da pobreza, a motivação de atitudes autoritárias, valorizadoras da hierarquia, dos valores morais tradicionais e da ordem. Uma das principais expressões desta nova sociabilidade é o medo social, que se coloca de forma moralista com a lógica de que, para combater o mal, tudo é permitido, inclusive a tortura, o assassinato e etc..
Neste sentido, Barroco critica o modelo de educação à distância que reforça a individualização e isolamento.
A análise de Elizabete Mota apontou para o crescimento do pensamento de que o neoliberalismo não será enfrentado buscando sua superação, mas por meio do desenvolvimento. É com esta justificativa que se aceita a re-primarização da economia produtiva e o aumento da concentração da propriedade privada. “E, enquanto isto não acontece, os países da América Latina optaram pelos programas de combate à pobreza do ponto de vista da assistência social”, explica. Assim, o não enfrentamento do neoliberalismo é justificado pelo aumento do consumo e melhoria das condições de vida das famílias. Enquanto isso, a previdência, a saúde e a educação são tratadas e transformadas, cada vez mais, como negócios pelos privatistas de plantão.
Entre as novidades está o crescimento do tema da família na formação universitária, e o Serviço Social tem ensaiado atuar nas esferas clínicas e terapêuticas. “Essas questões arrastam uma cultura para o exercício profissio-nal se restringir à ação prática aplicada, nos limites da ordem. Toda e qualquer reflexão para além disso é considerada utópica, no sentido negativo, ou ao retorno ao messianismo. Essas questões precisam ser tratadas, pesquisadas e trabalhadas por nós”.
Diante desta nova realidade que se conforma, é preciso, portanto, retirar do mundo da reprodução os elementos e transformá-los em objeto de análise e entender os nexos e a complexidade do que se dá hoje, defende Elizabete. “Temos que estar fortes, produzindo, pensando. Não tratar como criminalização do estudante ou do profissional, mas buscar ter clareza das novas determinações da realidade que tensionam o projeto ético-político”.

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